Comprador diário do Público fiquei hoje surpreendido com a insistência na manchete visual de ontem – o Katrina e o seu segundo contacto com território dos Estados Unidos.
O dia da passagem por New Orleans resultou – diz-nos o Público no seu destaque de abertura do jornal – em danos materiais avultados e numa debilitação generalizada da cidade.
Por mais que procure não encontro critério jornalístico que justifique semelhante desproporção: estas tempestades são comuns na área todos os anos; aquela zona talvez seja uma das mais bem preparadas do planeta para as enfrentar; não houve perdas humanas (ao contrário do que terá já acontecido hoje); não se conhecem interesses ou comunidades portuguesas em risco (nem esse ângulo foi tentado); finalmente, não se conhece no Público empenho semelhante em cobrir acontecimentos de igual ou maior proporção (também cíclicos) no Índico ou no Pacífico.
Curiosamente, o único “gancho” jornalístico sólido, para uma audiência não norte-americana, foi remetido pelo Público para a útima página do destaque – as implicações directas no preço do petróleo.
Esse foi, precisamente, o tema escolhido pelo DN para manchete. Já o JN seguiu um caminho muito mais próximo da sua estratégia de sempre – a de privilegiar os acontecimentos nacionais (dando ao Katrina lugar de topo entre as suas breves da primeira).
Seria ilegítimo fazer extrapolações a partir de um só exemplo. Mas custa-me continuar a ver o Público seguir este caminho ao mesmo tempo que os seus responsáveis se lamentam com a falta de crescimento do volume de leitores.
Bowie tinha uma música que nos dizia: “this is not America, lalalalala...”.
Archive for Agosto, 2005
this is not America…
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo on '30/08/05 2:53 PM'| 5 Comments »
E assim se passou o tempo…
Posted in Sem categoria, tagged Pessoal on '26/08/05 3:21 PM'| 2 Comments »
O tempo de paragem terminou.
Não foi tão organizado como devia nem tão tranquilo como podia.
Foi tempo de algum abandono e desleixo.
E talvez por isso me tenha escapado a novela das férias quenianas do primeiro-ministro, a desventura do Sporting e a discussão (demasiado) antecipada sobre os blogs como Quinto Poder.
Mas com isto posso eu bem.
O que não me escapou – atémesmo em termos familiares – foi o resultado da combinação de anos e anos de incúria política.
O país que arde é o país do Zé que lança foguetes à tarde e bebe uma frequinha horas depois, frente à TV, dizendo para a Maria que os incendiários “deviam ser todos queimados”. Esse mesmo Zé viajará, na manhã seguinte, por uma estrada florestal, de vidro descido e braço com cigarro de fora. E, quando o termine, logo arranjará para a beata um lugar de destaque entre a caruma seca.
Mas este país é também o dos responsáveis políticos que abdicaram de preparar e antecipar o único combate que anualmente põe em causa a nossa existência.
E com isto eu continuo a não poder.