A forma como, a partir de sexta-feira à noite (na Rádio Renascença) os portugueses ficaram a saber dos planos da ministra da Ciência e do Ensino Superior para as universidades públicas é mais um exemplo, simultaneo, da crescente profissionalização das máquinas de comunicação ao serviço das opções políticas e do preocupante desleixo de quem – nas redacções – tem a responsabilidade de distribuír tarefas e de escrutinar os serviços.
Passo a explicar.
A srª ministra tomou, há já algum tempo atrás, uma decisão – os cursos superiores portugueses passariam a ter três anos de formação base, com a opção de mais dois anos de formação complementar. A nomeação de comissões sectoriais – encabeçadas, como será escusado adiantar, por gente de confiança – serviu para acrescentar uma aura de legitimidade e de falso consenso a uma opção que – repita-se – havia já sido tomada no início do processo.
Quando a ministra decide anunciar a medida, diz a toda a gente que se trata da implementação, em Portugal, do que foi acordado na tal Declaração de Bolonha.
Esta mesma frase foi ouvida durante todo o sábado nas rádios nacionais – RR, TSF e Antena 1 – e esteve no cerne do inenarrável artigo do semanário Expresso.
Ninguém – nem entre os jornalistas nem, sobretudo, entre os seus editores – parece ter tido a curiosidade de ir ler a declaração. Nela se diz, claramente, que o primeiro ciclo deverá ter uma duração nunca inferior a 3 anos. Não são impostos os tais ‘sagrados’ 3 anos nem pouco mais ou menos.
Porque escolheu então a ministra essa opção?
O que vai ela fazer aos cursos que acabaram – ou estão ainda a meio de – processos de re-estruturação (de 5 para 4 anos)?
Como tenciona equilibrar os interesses do país (em ter gente qualificada em muitas áreas do saber) com a opção clara de se criar um sistema com cursos de primeira (os que têm classes profissionais organizadas, capazes de impor os cinco anos como formação mínima obrigatória) e cursos de segunda (aqueles – sobretudo nas humanidades, artes e ciências sociais – que não têm esse poder)?
E como vai a ministra avaliar o impacto da entrada de jovens muito mais cedo no mercado de trabalho?
Tantas perguntas que não foram sequer feitas.
Mérito de quem ‘empacotou’ bem o anúncio. Demérito muito grande de quem tem a obrigação de ver para além dos ‘pacotes’.
Archive for Setembro, 2004
Bolonha – mais uma derrota para o jornalismo
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '26/09/04 4:20 PM'| 4 Comments »
blogs nas ‘torres de marfim’
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '24/09/04 1:24 PM'|
Um texto de ontem, no diário britânico Guardian, fala-nos de como as universidades – a tais ‘torres de marfim’ – aderiram com entusiasmo aos weblogs.
“Over the past decade, academics have used mailing lists, discussion boards and learning journals, but these have usually existed behind university firewalls. In contrast, blogging can invite the rest of the world into the common room – and some believe that can only be a good thing“.
São óbvias as potencialidades da ferramenta em termos de ensino, aprendizagem, investigação e trabalho colaborativo, mas parece-me também muito importante esta possibilidade de o trabalho académico e pedagógico poder ser acompanhado pelo ‘mundo exterior’ e interagir com ele em tempo real.
bloggers iranianos – protesto
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '24/09/04 12:51 PM'|
Original a forma escolhida por alguns bloggers iranianos para manifestarem o seu protesto contra a campanha de censura mediática em curso no país – deram aos seus blogs os nomes de publicações (tradicionais ou online) que foram banidas ou encerradas pelas autoridades.
Pormenores aqui.
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '24/09/04 12:40 PM'|
Descobri recentemente o weblog de Douglas Rushkoff, escritor de ensaios e livros sobre os novos media.
Um apelativo post do início deste mês começa assim:
“I believe that the most dangerous thing about blogs to the status quo is that so many of them exist for reasons other than to make money. A thriving community of people who are engaged for free, to me, have a certain authority that people doing things for money don’t“.
Sinto-me inclinado a partilhar a perspectiva – com a blogsofera e a massificação generalizada do acesso à Internet, o controlo dos fluxos de ideias e de projectos/acções de grupo está menos nas mãos dos operadores sociais e económicos tradicionais (empresas, partidos políticos, sindicatos, etc.).
O post completo aqui.
logo universal para jornalistas
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '22/09/04 1:08 PM'| 1 Comment »
Na sequência de uma reunião em Genebra, organizações ligadas ao Jornalismo mundial e aos Direitos Humanos subscreveram um documento com o objectivo de promover a segurança pessoal de quem trabalha em zonas de perigo. Entre as entidades subscritoras encontram-se a IFJ, a Amnistia Internacional e também uma organização que promove a adopção de um logotipo universal de identificação dos jornalistas – ao que parece, algo em torno das letras “PRESS” sob um fundo laranja. Mais aqui.
e se o jornalismo se concentrasse no que o torna distintivo…
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '22/09/04 12:01 PM'|
É mais um daqueles textos em defesa do Jornalismo que, ocasionalmente, me sinto impelido a sugerir. Mas é, sobretudo, outro exemplo de como seria importante para o Jornalismo manter-se fiel aos seus valores de base – a honestidade intelectual e o serviço à comunidade – incorporando (e não ignorando) as mudanças tecnológicas e, sobretudo, sociais em seu redor.
Parece-me que, por cá, as torres de marfim ainda são altas e brilhantes demais para se dar atenção aos sinais de erosão e que, fundamentalmente, quando eles aparecem continuam a explicar-se com factores externos (custos e iliteracia, sobretudo). Mas lá se continuará a insistir…
quase 30 por cento dos internautas portugueses visitam blogs
Posted in Sem categoria, tagged Jornalismo Online on '21/09/04 6:48 PM'| 1 Comment »
Segundo a Marktest e de acordo com os indicadores do Netpanel, “27.8% dos internautas portugueses com 15 e mais anos acederam à internet durante o primeiro semestre para visitar blogs. Neste período, foram visitadas mais de 13 milhões de páginas de blogs, num total de 243 mil horas”.
Mais aqui.