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Archive for Setembro, 2004

Bolonha – mais uma derrota para o jornalismo

A forma como, a partir de sexta-feira à noite (na Rádio Renascença) os portugueses ficaram a saber dos planos da ministra da Ciência e do Ensino Superior para as universidades públicas é mais um exemplo, simultaneo, da crescente profissionalização das máquinas de comunicação ao serviço das opções políticas e do preocupante desleixo de quem – nas redacções – tem a responsabilidade de distribuír tarefas e de escrutinar os serviços.
Passo a explicar.
A srª ministra tomou, há já algum tempo atrás, uma decisão – os cursos superiores portugueses passariam a ter três anos de formação base, com a opção de mais dois anos de formação complementar. A nomeação de comissões sectoriais – encabeçadas, como será escusado adiantar, por gente de confiança – serviu para acrescentar uma aura de legitimidade e de falso consenso a uma opção que – repita-se – havia já sido tomada no início do processo.
Quando a ministra decide anunciar a medida, diz a toda a gente que se trata da implementação, em Portugal, do que foi acordado na tal Declaração de Bolonha.
Esta mesma frase foi ouvida durante todo o sábado nas rádios nacionais – RR, TSF e Antena 1 – e esteve no cerne do inenarrável artigo do semanário Expresso.
Ninguém – nem entre os jornalistas nem, sobretudo, entre os seus editores – parece ter tido a curiosidade de ir ler a declaração. Nela se diz, claramente, que o primeiro ciclo deverá ter uma duração nunca inferior a 3 anos. Não são impostos os tais ‘sagrados’ 3 anos nem pouco mais ou menos.
Porque escolheu então a ministra essa opção?
O que vai ela fazer aos cursos que acabaram – ou estão ainda a meio de – processos de re-estruturação (de 5 para 4 anos)?
Como tenciona equilibrar os interesses do país (em ter gente qualificada em muitas áreas do saber) com a opção clara de se criar um sistema com cursos de primeira (os que têm classes profissionais organizadas, capazes de impor os cinco anos como formação mínima obrigatória) e cursos de segunda (aqueles – sobretudo nas humanidades, artes e ciências sociais – que não têm esse poder)?
E como vai a ministra avaliar o impacto da entrada de jovens muito mais cedo no mercado de trabalho?
Tantas perguntas que não foram sequer feitas.
Mérito de quem ‘empacotou’ bem o anúncio. Demérito muito grande de quem tem a obrigação de ver para além dos ‘pacotes’.

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blogs nas ‘torres de marfim’

Um texto de ontem, no diário britânico Guardian, fala-nos de como as universidades – a tais ‘torres de marfim’ – aderiram com entusiasmo aos weblogs.
Over the past decade, academics have used mailing lists, discussion boards and learning journals, but these have usually existed behind university firewalls. In contrast, blogging can invite the rest of the world into the common room – and some believe that can only be a good thing“.
São óbvias as potencialidades da ferramenta em termos de ensino, aprendizagem, investigação e trabalho colaborativo, mas parece-me também muito importante esta possibilidade de o trabalho académico e pedagógico poder ser acompanhado pelo ‘mundo exterior’ e interagir com ele em tempo real.

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bloggers iranianos – protesto

Original a forma escolhida por alguns bloggers iranianos para manifestarem o seu protesto contra a campanha de censura mediática em curso no país – deram aos seus blogs os nomes de publicações (tradicionais ou online) que foram banidas ou encerradas pelas autoridades.
Pormenores aqui.

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Descobri recentemente o weblog de Douglas Rushkoff, escritor de ensaios e livros sobre os novos media.
Um apelativo post do início deste mês começa assim:

I believe that the most dangerous thing about blogs to the status quo is that so many of them exist for reasons other than to make money. A thriving community of people who are engaged for free, to me, have a certain authority that people doing things for money don’t“.

Sinto-me inclinado a partilhar a perspectiva – com a blogsofera e a massificação generalizada do acesso à Internet, o controlo dos fluxos de ideias e de projectos/acções de grupo está menos nas mãos dos operadores sociais e económicos tradicionais (empresas, partidos políticos, sindicatos, etc.).
O post completo aqui.

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logo universal para jornalistas

Na sequência de uma reunião em Genebra, organizações ligadas ao Jornalismo mundial e aos Direitos Humanos subscreveram um documento com o objectivo de promover a segurança pessoal de quem trabalha em zonas de perigo. Entre as entidades subscritoras encontram-se a IFJ, a Amnistia Internacional e também uma organização que promove a adopção de um logotipo universal de identificação dos jornalistas – ao que parece, algo em torno das letras “PRESS” sob um fundo laranja. Mais aqui.

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e se o jornalismo se concentrasse no que o torna distintivo…

É mais um daqueles textos em defesa do Jornalismo que, ocasionalmente, me sinto impelido a sugerir. Mas é, sobretudo, outro exemplo de como seria importante para o Jornalismo manter-se fiel aos seus valores de base – a honestidade intelectual e o serviço à comunidade – incorporando (e não ignorando) as mudanças tecnológicas e, sobretudo, sociais em seu redor.
Parece-me que, por cá, as torres de marfim ainda são altas e brilhantes demais para se dar atenção aos sinais de erosão e que, fundamentalmente, quando eles aparecem continuam a explicar-se com factores externos (custos e iliteracia, sobretudo). Mas lá se continuará a insistir…

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Segundo a Marktest e de acordo com os indicadores do Netpanel, “27.8% dos internautas portugueses com 15 e mais anos acederam à internet durante o primeiro semestre para visitar blogs. Neste período, foram visitadas mais de 13 milhões de páginas de blogs, num total de 243 mil horas”.
Mais aqui.

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vale tudo o mesmo – quase nada

O ‘Prós e Contras’ de ontem à noite, na televisão do Estado, mostrou ser mais um exemplo claro de como é, aparentemente, fácil banalizar temáticas relevantes.
O esquema continua a ser muito básico mais muito eficiente: pega-se num assunto pertinente, de interesse geral (como a trapalhada com a colocação de professores), junta-se um grande número de ‘especialistas’ (de preferência mais de sete, para que cada um só tenha a oportunidade de falar duas ou três vezes) e interrompem-se raciocínios ou argumentos de forma quase cirúrgica com o intuito de introduzir variedade (os tais exemplos sem nexo – como, por exemplo, o de um professor que construiu um carrinho com os seus alunos).
A receita funciona e, aos olhos da apresentadora (que faz por nos representar) tudo tem o mesmo valor. Será deliberado?

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O fim dos ‘velhos’ media

Tanto se anuncia a coisa que quando ela chegar (se chegar)…
Enfim, mantendo sempre presente o espírito do autor de Tom Sawyer, ainda assim arrisco falar deste artigo de Michael S. Malone na ABC News (Online).
Apoiando-se na mais recente polémica mediática norte-americana (já conhecida como Rathergate!) Malone escreve que os grandes vencedores da disputa em causa são os bloggers por (alegadamente) terem exposto as falhas dos ‘grandes’.

Isso, no entanto, não fará deles um novo jornalismo, pois não?

If the mainstream media is indeed gone, what replaces it? The Pajama Press — the thousands of people who surf chat rooms and posting sites or write blogs of their own?
The idea has a certain appeal: decentralization of the news, stripping it away from the arrogant old MSM and putting in the hands of the people. The collective intelligence and wisdom of millions instead of a handful of jaded, opinionated editors and reporters. Fact checking not by a few “experts” on retainer, but by hundreds of real experts on any given subject taking a moment from their jobs to impart hard-earned wisdom and truth.
That’s the buzzsaw Dan Rather ran into — and deservedly so. But now is the time to ask if the Pajama Press can, in its present form, supplant — better yet, improve upon — the existing mainstream press?
I’m not so sure. At least not yet
“.

Mas então em que ficamos, Sr. Malone?

My guess? In the next year we will see the Pajama Press not only increasingly dominate American journalism, but it will itself undergo a transformation: establishing professional standards and organizations, and aggregating into larger sites that can generate enough revenues to pay for permanent jobs and dedicated reporters. Some purists will call this a betrayal, that the Pajama Press has gone mainstream and turned into what it replaced.
But that too is what they always say about tech revolutions
“.

Cá estaremos para ver.

Uma última nota: ainda que, logo no início do texto, a cadeia ABC tenha escolhido distanciar-se do autor, a sua opinião foi apresentada.
Um exemplo que importa sempre assinalar.
Encontrei a sugestão no MicroPersuasion.

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Mary Hodder – cujos posts costumo recomendar – apresenta-nos uma muito bem estruturada argumentação em torno das perplexidades que parecem estar a afligir quem continua a pensar a produção jornalística em torno de ‘fluxos verticais’ (“the old model, pre-internet, was that the local newspaper published news framed in the local views around truth and filtered by trusted editors, and the locals bought it. End of story.”).
Sendo o próprio post um exemplo muito bem construído (sobretudo pelos links que convoca) de um novo entendimento do texto, Hodder conclui que o tão desejado novo modelo de negócio talvez até nem seja estranho de todo ao que já existe. Só é preciso que, como no passado, os produtores de informação saibam a quem se dirigem.
Deixo uns excertos:
It’s about finding a networked community, one that might include 20 people in Silicon Valley, 20 people in India, and 20 in Belgium. But they might just be exactly the right 60 people, if small by old media standards. Or maybe it’s 60 thousand or 6 million. Just depends on how they self-select into the community. But you can be sure it’s most likely not location based unless it’s specifically, topically about a location.
Then work backwards. How do those networked people frame trust, truth and credibilty. Figure it out, then figure out why they self-selected (user experience, a desire to connect over a topic or game or share their creativity), and then figure out how to filter information for those frames and community needs. And figure out the user interface. It’s the interface, stupid.
But wait, that’s not all. You must also figure out the social interaction between people. Because just like when the telephone was invented, and they thought it would all be about people making business calls, but they were wrong, it turned out people just wanted to talk to each other, the internet is also all about the distributed social communication between people, whether it’s a business person or a friend or a blogger you don’t know. It is the social interaction that matters. It’s a lot of figuring, to be sure. But get all that, and voila! You too can be in the information business online
“.
Talvez este texto devesse ser leitura obrigatória para alguns ‘gestores de produto’…que nem de gestão nem do produto parecem saber sequer a cor dos olhos.

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Deutsche Welle Internacional promove ‘best of blogs’

A partir de amanhã – dia 17 – é possível participar no “The BOB’s – the best of blogs”, uma iniciativa promovida pela Deutsche Welle.
página de acesso em Português e há também a possibilidade de escolher o melhor blog jornalístico na nossa língua.
As votações podem ser feitas durante um mês.
Sugestão recolhida no Intermezzo.

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Sensivelmente um ano depois de ter escrito, no Público, um artigo importante para o desenvolvimento da blogosfera nacional, Pacheco Pereira retoma hoje, no mesmo sítio, o tema.
O texto é informado, pertinente e – à semelhança do anterior – indubitavelmente referencial para qualquer análise do fenómeno em Portugal. Mas o texto denota, também, a reincidência do autor do Abrupto numa fixação antiga – ‘os jornalistas’.
É curioso notar que, a dado passo da conversa, PP fala-nos da pequena elite (“a gente certa“) que acede e participa diariamente na blogosfera e nela integra os malfadados jornalistas. Ou melhor, nela – que numa apreciação global considera ser (concordo plenamente!) um espaço incontornável – integra um grupo de jornalistas “jovens e no início de carreira“.
Curiosamente, a seguir, lá nos aponta exemplos de como o jornalismo nacional é, em muitas instâncias, desconfiado e sobranceiro relativamente aos blogs. O tal jornalismo (que facilmente passa a ser “os Media”) é muito pouco sensível à crítica, quando não arrogante e muito pouco aberto ao “escrutínio das suas práticas profissionais“.
É como se nos dissesse duas coisas de uma vez só – os males têm um rosto e esse rosto tem feições marcadas pela passagem do tempo e, sem dúvida, pelos inúmeros vícios adquiridos.
As obsessões têm destas coisas. Levam qualquer um – mesmo os mais articulados e inteligentes – a misturar, naturalmente com intencionalidade, alhos com bugalhos e a fazer análises sem cuidados de rigor que considerariam indispensáveis noutra qualquer situação.
Pacheco Pereira saberá melhor do que ninguém que:
– os “Media” não são o Jornalismo;
– os “Media” nacionais seguem uma tendência internacional no sentido da optimização da gestão – o que significa contratar profissionais com vínculo precário, mal pagos, para executar todo o tipo de tarefas;
– profissão liberal mais escrutinada não deve haver e, sobretudo, com uma tão débil ‘consciência de grupo’ e com uma tão grande vulnerabilidade no mercado de trabalho;
– os “novos” jornalistas não são, no essencial, muito diferentes dos outros. São pessoas inquietas, curiosas, atentas e – na sua maioria – conscientes dos efeitos do seu trabalho e das implicações que podem resultar do seu silêncio.

Mas se ele – estou certo – sabe tudo isto e muito mais, porque será que insiste? Não será, por certo, por falta de atenção mediática às suas epístolas (ditas, escritas ou ‘postadas’). Ou será, precisamente, porque se apercebeu da facilidade com que algumas pessoas conseguem aceder ao espaço público sem nunca mais largarem o assento?
Tenho muitas dúvidas.
É defeito de jornalista – isto não me sai do corpo.

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Em defesa do Jornalismo

O publisher do New York Times, Arthur Sulzberger Jr. aproveitou uma palestra na Universidade do Kansas para tecer alguns comentários sobre a crescente aproximação entre o jornalismo e a dita ‘programação de realidade’.
O texto parece-me muito pertinente, sobretudo porque – vindo de onde vem – insiste na defesa dos valores que fazem do Jornalismo uma actividade indispensável a uma sociedade livre e participada.
Alguns excertos:

“(…)news consumers have become more skeptical and cynical about what they see and hear and read and have a greater tendency to believe that all reporting is distorted by political bias and by larger commercial interests“.

What is worse, in fact, much worse, is that a sizable portion of our audience considers news to be just another form of reality programming (…) and as people become more detached from the national sources — from traditional sources of information, and as it becomes increasingly difficult to find trustworthy analysis, people are pushed in two directions. Understandably some completely withdraw from what is happening around them (…)Another manifestation of this social alienation is the rapid proliferation of superficial cynicism. It is far easier to condemn an entire political and social structure than to understand and to enhance it“.

Unfortunately, or ultimately rather, journalism must be about news. It must seek to educate, inform and illuminate. It cannot be the terribly uninformed shriek of opinion, nor can it be the modern day equivalent of the Roman circuses, where we publicly and savagely humiliate our latest press victim“.

Vale a pena perder uns minutos com o texto todo. Aqui.

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os blogs podem ‘cegar’

Divertida esta longa crónica de Tom Scocca no New York Observer. Deambulações talentosas sobre a ‘moda’ dos weblogs e sobre os efeitos que está a ter nos universos do texto escrito e do Jornalismo.

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