Joaquim Fidalgo é o mais ‘novo’ Doutor do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.
A tese que esta tarde defendeu – «O lugar da ética e da auto-regulação na identidade profissional dos jornalistas» – foi aprovada por unanimidade pelo júri.
Excertos das intervenções:
Estrela Serrano (arguente):
Faz, com grande coragem, realismo e crueldade, o desmontar dos processos jornalisticos – é uma auto-crítica que raramente se vê feita do interior da profissão.
É uma tese, em alguns aspectos, normativa; assume uma posição, procura fundar.
Muito interessante a forma como desmonta as perversões do princípio da liberdade de expressão presente na primeira emenda da constituição norte-americana; como ela pode ser pervertida, da forma mais arbitrária.
Não foge à palavra moral – que é um conceito muito recusado também.
JF:
A regulação é como um sistema de vasos comunicantes e importa que cada mecanismo (os de auto-, os de co- e os de hetero- ) convivam. Pode ter-se dado o caso de que, na instituição da ERC e mesmo nas propostas de revisão do estatuto do jornalista, se tenha ido longe demais, fundamentalmente por inoperância dos próprios jornalistas.
Sempre que um jornal conseguiu auto-criticar-se não lhe cairam os parentes na lama. Pelo contrário.
Há, por estes dias, muitas coisas parecidas com o Jornalismo mas que não são Jornalismo.
Uma das coisas que me custava mais (enquanto Provedor) era receber críticas dos leitores às quais seria muito fácil responder, porque provinham de pessoas que não percebem como funcionam os media. Na medida em que as pessoas saibam melhor como funcionam as coisas, saberão melhor como exercer uma crítica qualificada e, por arrastamento, ajudarão os profissionais a ser melhores jornalistas.
Manuel Pinto (arguente):
Uma das ideias que o Joaquim sublinha é que a construção histórica do jornalismo é uma construção historicamente situada. Por outro lado, temos que ter consciência também de que estamos num campo de construção científica ainda muito incipiente no nosso país. Daí que esta tese, mais do que uma síntese, seja um programa de trabalho.
Valorização da interacção entre os académicos e os jornalistas que devem também ter um lugar na academia, do mesmo modo que os académicos deveriam ter um lugar nas redacções.
Sobre a tese, o Joaquim foi bastante convencional no título que escolheu para ela. Podia ter-se inspirado num título que uma autora escolheu para um artigo numa revista: “Who are these guys?” No fim desta tese, poderíamos perguntar o que é a identidade dos jornalistas? Quem são os jornalistas?
Esta é uma tese panorâmica e deste ponto de vista o trabalho do Joaquim é uma síntese pessoal, que procura esclarecer as coisas, organizá-las, onde ele se possa reconhecer. Este quadro panorâmico é tridimensional: panorama da actualidade que mergulha na perspectiva histórica. Mostra como são tão enraizadas as tradições, mas também como são tão frágeis as construções.
A tese do Joaquim é exaustiva em termos das matérias que trata, tendo até por vezes um carácter excessivamente ambicioso, de não deixar nada de fora.
É uma tese muito didáctica que concilia o rigor com uma boa estruturação e boa argumentação.
Ela será, quase se poderia dizer, uma leitura fundamental. Finalmente, é uma tese que abre um panorama de estudos que é, por um lado, enquadrador e, por outro, incentivador para novas investigações.
1) Num tempo e num país em que são tão fortes e tão profundas as assimetrias que afectam o jornalismo (a precariedade, a proletarização, ao lado do assédio dos vários poderes, dos desafios da convergência tecnológica), será que podemos falar ainda de rigor ou estamos perante um quadro de diluição da identidade da profissão?
2) A questão da formação de jornalistas… Qual o alcance da defesa da formação?
3) Ideia de Bourdieu segundo a qual o jornalismo pode ser entendido como um campo de forças e de poder… Numa visão tripolar, em que teríamos o Estado, o mercado e a sociedade, o pólo da sociedade tem vindo a receber uma atenção que lhe era devida. Será possível pensar o jornalismo desligado dos novos actores e dos novos pólos de enunciação? A questão é perceber se há novos actores a querer disputar o que era monopólio dos jornalistas se será possível continuar a pensar o jornalismo segundo o paradigma convencional?
4) Esta é uma ética apenas do jornalismo e dos jornalistas? Não será viável pensar uma ética da recepção?
5) De que modo é que as perguntas com que a tese termina vão continuar a ser estudadas? Que prioridades aponta o Joaquim para que quem quiser continuar a trabalhar nesta linha?
JF:
Há a responsabilidade social dos media mas há também a responsabilidade mediática da sociedade. Há uma ética dos media mas há também uma ética da informação.
O exercício da ética não é indiferente ao ambiente em que existe.
José Lopez Garcia (arguente):
Estamos perante uma tese panorâmica; como se diz na minha terra (Galiza) o Joaquim teve o benefício de ter sido ‘frade antes de ser cozinheiro’ e isso está presente, de forma enriquecedora, no trabalho.
A sua tese – a reflexão que impõe – pode ser problemática para os meios, desde logo porque ainda se vive um tempo em que as ferramentas de auto-regulação são, por vezes, entendidas como incómodas.
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